Dizer adeus aos bocadinhos

Dizer adeus nunca fica mais fácil, aliás, acho que é cada vez mais difícil,  como se cada vez que me despedisse viessem à tona todas as outras vezes que tive de o fazer. Forma-se uma coleção de dores miudinhas. Quis muito escrever sobre a nossa despedida da Bélgica, mas estava doloroso. Foi mais doloroso ainda pois o adeus não foi de repente mas sim aos bocadinhos, como se tivesse a viver um luto prolongado. Disse adeus aos bocadinhos porque aprendi a gostar daquele lugar também aos bocadinhos. O seu estilo despreocupado mas elegante, os seus cafés, que aos olhos do S* eram exageradamente alternativos, as suas ruas largas e finitas, as estações que se apresentavam em tom dramático, o aroma a "gaufre" nas ruas cinzentas e manchadas, a cerveja e o chocolate, o verde, o magnífico verde a dois passos de casa e os amigos do coração, belas pessoas cujos filhos vi nascer e crescer. Hoje, com as caixas já arrumadas e com uma casa que aos poucos se vai tornando um novo ninho, começamos uma nova aventura. Mudanças nunca são fáceis e quanto mais velho se é mais difíceis elas se tornam. Já pensei que não me devo apegar ao que me rodeia mas o que será a vida sem os apegos? Um milhão de vazios. Farei então questão de onde for(mos) e por onde passar(mos) viver o lugar, os aromas e as pessoas e levar na mala um milhão de memórias. E assim foi o nosso querido mês de Agosto... 



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