Abri os olhos e conheci tanta coisa boa

Tinha os olhos fechados para o mundo e limitava-me a ver apenas o conveniente. Cresci dentro de uma bolha de ar, água, calor e amor. À mim foram prometidos demasiados sucessos, medalhas, sorrisos, amores perfeitos mas nem por isso uma figura de invejar. A mim foram desenhados padrões de uma cor que eu não conheço e foram delineadas metas, aceites na minha doce ingenuidade.

Quando olhei à minha volta já tudo estava desmoronado. Os sucessos, as medalhas, os sorrisos e os amores perfeitos, formaram-se em cacos de vidro e de plástico. Os padrões e as metas juntamente com uma ingenuidade pouco perceptível caíram para o ralo do desconhecido.
Olhar para o meu reflexo tornou-se difícil. Calçar aqueles sapatos que lá estavam e não me serviam, à cada dia era mais doloroso. Escondia-me por detrás de lentes de contacto que ocultavam as cores de um mundo que afinal existia.
Culpei muitos e muito. Chorei rios e mares, mais do que as nuvens da minha Luanda um dia sequer lagrimaram. Deixei o meu coração em dunas arredondadas como aquelas que só o Namibe carrega e quando orar já não parecia ser a solução, escondia-me por baixo de um cobertor creme onde ficava o meu estúdio frio e vazio.  Deixei-me fria e vazia. Aprendi a dizer adeus sem sequer olhar para trás. Treinei o desapego e cheguei até o fim.
Mas sem sequer piscar os olhos, abri-os e dei lugar à qualquer coisa que até então não conhecia. E que bem me fazia. E que brilho trazia.
Aprendi a sair da bolha, a viver o agora, a fazer escolhas com os meus padrões e as minhas metas. Aprendi a sorrir com muitos abraços e uma só palavra.

Abri os olhos e conheci tanta coisa boa.