E se eu oferecesse um sonho?

'Um sonho para ti, outro para ti e mais outro para ti...' 

Se eu pudesse oferecer um sonho, dois talvez, eu faria. E faria com sorriso no rosto. 
Hoje, ela disse-me que deixaria de correr atrás dos seus sonhos, que deixá-los-ia andar por aí e quando pudesse apanhá-los-ia no caminho. E ao dividir o mesmo segundo com ela, senti-me parada naquele lugar, envolta no mesmo sentimento. 
Cresci e produzi tantos sonhos para mim, edifiquei-os até... Tornei-os real na minha inocente irrealidade. Tornei-me deles mas não como podia. E acreditei em todos. 
Muitas vezes, desliguei-me do mundo real para os ver levantar vôo dentro de mim. E já no céu de um azul limpo e convergente, encontrava outros sonhos, mais pequenos e mais delicados. 
Eles cresceram e amadureceram...
Mas, do final da minha rua, num escuro inquieto, há medida que os minutos se transformaram em dias eliminei-os, com alguma dó e piedade. 
E se eu escrever no canto de minhas folhas amarelas todos aqueles sonhos? E do canto deixá-lo folhear com dedos cansados, sujos e velhos. Ou novos e radiantes...
Que ao menos me dissessem que um dia eles fugiriam de mim...
Assim, dá-los-ia antes de tudo. 
Que ao menos pudesse preparar todas minhas lágrimas e as empacotar com papel de embrulho para oferecer a um desgraçado, coitado, que de tanto chorar perdeu todas as que suas eram. 
Assim, mesmo que não desse sonhos, daria lágrimas, cristais tão preciosos e transparentes, que minha alma vem armazenando já há algum tempo... E que só aparecem rodeada de sonhos. Porque sem lágrimas eles não existem. 
Sem sonhos, sou um vazio. Pior ainda, sem eles concretizados, são três vazios e meio. E eu, tenho duas mãos apenas. O outro vazio transborda... Faz lençóis teimosos no longíquo do meu ser. 

Se eu pudesse sonhar um único sonho, sonharia que podia fixar o sol com as poucas duas mãos que tenho para oferecer raios de luz àqueles que não têm. E transformar esses raios em sonhos, sonhos que brilham e sonhos que sorriem.

'Um sonho para ti, outro para ti e mais outro para ti...' Todos que um dia sonhei... 
Sonhos que fizeram minhas palavras falar alto. Sonhos que transformaram um mar azul em chão cinzento aos prantos. Sonhos que fizeram todos os sonhos ser...  
E se eu pudesse dar-te-ia também todos os meus sonhos, mesmo que com eles minha alma se esvaziasse. Sonhos que faziam colorir a vida. Sonhos que faziam um mundo repleto de sorrisos. Sonhos em que abraços eram intemporais... 

'Um sonho para ti, outro para ti e mais outro para ti...'



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