(Des)Encontro
Texto narrado ♪
Tudo muito inesperado e repentino. Fora do tempo. Mas no mesmo lugar. Estava exposta ao mundo, aos prazeres materiais, àquela esfera onde eu não pertencia. Carregava comigo apenas a minha saia colada ao meu torso, meio torto. No tronco, preto envolto. Entre a minha sobriedade e o mexer barulhento da atmosfera vibrante, observei-te em passos pequenos e diminutos, à medida que te aproximavas. Tu já lá estavas mas encontraste-me sentada, estacionada na minha instância. Peguei nos meus segundos olhos e coloquei-os por dentro das lunetas arredondadas que tinha herdado. Observei-te. Vestias um ar sereno, para combinar, similarmente o preto, um negro que te cobria e se desenrolava por todo o teu ser. Queria muito descobrir-te, explorar-te. Mas à minima distância, apenas contemplava. Tentava olhar directamente para os teus olhos, para o teu mundo e o teu âmago. Tentava seguir-te, adivinhar-te e quem sabe errar-te. Queria errar muito em ti, de ti e sobre ti. Para voltar a fazê-lo e assim, repetir-me naquele teu ser que se exaltou em mim sem um piscar de olhos e uma vogal tremida. E pela janela francesa de cor verde que transmitia a brisa espanhola e viajava na tua epiderme africana tentava enviar um recado.
Tudo muito inesperado e repentino. Fora do tempo. Mas no mesmo lugar. Estava exposta ao mundo, aos prazeres materiais, àquela esfera onde eu não pertencia. Carregava comigo apenas a minha saia colada ao meu torso, meio torto. No tronco, preto envolto. Entre a minha sobriedade e o mexer barulhento da atmosfera vibrante, observei-te em passos pequenos e diminutos, à medida que te aproximavas. Tu já lá estavas mas encontraste-me sentada, estacionada na minha instância. Peguei nos meus segundos olhos e coloquei-os por dentro das lunetas arredondadas que tinha herdado. Observei-te. Vestias um ar sereno, para combinar, similarmente o preto, um negro que te cobria e se desenrolava por todo o teu ser. Queria muito descobrir-te, explorar-te. Mas à minima distância, apenas contemplava. Tentava olhar directamente para os teus olhos, para o teu mundo e o teu âmago. Tentava seguir-te, adivinhar-te e quem sabe errar-te. Queria errar muito em ti, de ti e sobre ti. Para voltar a fazê-lo e assim, repetir-me naquele teu ser que se exaltou em mim sem um piscar de olhos e uma vogal tremida. E pela janela francesa de cor verde que transmitia a brisa espanhola e viajava na tua epiderme africana tentava enviar um recado.
Se ao menos eu pudesse...
E por acaso, no acaso, aquela distância abissal entre os nossos mundos, converteu-se à velocidade de um nada invisível e inexistente. E daí, complicou-se, encurralou-se, formou-se então uma teia. Cada vez mais frágil e imponente. Sem esforços mostraste o melhor de ti. Desenhaste aquela atmosfera com as curvas hipnotizantes do teu sorriso que guarda mistério e serenidade. Projectaste aos mil cantos daquela mistura, a beleza do que era ser a tua pessoa. A tua pessoa, que quis ser dentro dela. Embriagaste-me com a tua inteligência fugaz pelas palavras, pensamentos e postura que em ti espreitava.
Se ao menos eu pudesse...
Queria tocar-te. E mais perto tudo era mais difícil. E quanto mais te aproximavas mais complicado era. Tentei chegar até ti de todas as formas e lugares. Ali, na Península Ibérica, vi-te desaparecer. E da minha vida, vi-te surrealmente a tomares forma.
Fizeste-te presente em todas minhas lascívias imponentes na realidade. Fiz-te meu, de todas as maneiras que eu podia e queria. Nos meus sonhos, pus-te como o sujeito a "predicar-se" com um complemento. Um complemento completo, que dentro de mim se formou. Formou, tomou espaço e ficou. Viajou, dançou, velejou. Deixou-se ir à uma melodia vibrante. Cada viagem que fazia, um dó tremido, um baloiçar de corpo, de alma. Com toques tímidos e tecidos leves assim me envolvias. Naquela maturidade preponderante mergulhei. Fechei os olhos e assim apoderei tudo de mim em ti. Apenas deixei a minha inocência, guardada no bolso daquela saia, espalhada pelo piso que se formou, à medida que o meu corpo a ti se entregou.
Se ao menos eu pudesse mostrar-te quem sou, não de alma, mas de corpo. Pois de alma conheces bem. Se ao menos eu pudesse mostrar-te o meu estar e não o meu ser. O meu ser já em ti pertence. Silencioso, ambíguo, discreto. O meu estar, complexo. Se ao menos eu pudesse ser e estar, de corpo e alma, por ti e dentro de ti. Se ao menos eu pudesse escravizar o que é meu para o que é teu e evitar toda alforria que se manifestar e aproximar. Em meus pensamentos corre um desejo, por ti ser invadida brutalmente, com toda a pouca força que possa existir naquele mesmo complemento que o teu sujeito predica. Corre a ânsia, com ardor, de viajar em ti. De te conhecer, explorar, de te amar e re-amar. Pois de uma vez não será suficiente. És um ser de séculos e não de dias. Levas tempo e se eu não o tivesse para tal, talvez não estaria aqui a rabiscar estas linhas. Minhas linhas translúcidas, transparentes, opacas, e convergentes que te trazem até mim. Se ao menos eu pudesse sentir a suavidade dos teus lábios tímidos em aparecer para o mundo. Encostá-los, talvez sem tocá-los. Se ao menos eu tivesse a sorte, de com o meu toque duvidosamente delicado e feminino, cultivar na tua pele todo o desejo que carrego comigo, desde aquela noite quente, nos medianos confins de uma Europa reconhecida, aquela única noite, da qual apenas me resta o nosso retrato. Tão perto que estávamos, mas na mesma, tão longe os nossos corpos se posicionavam.
Se ao menos eu pudesse eternizar aquele (des)encontro, que mesmo antes de se firmar eu já tinha afirmado. Se ao menos eu pudesse o muito sem exigir o nada.
Se ao menos fosses meu, sem antes ser.
Picture from tumblr
Like gold. It can lose its shining, but it is still gold.
ResponderEliminarYou got me several times and yet, every time I read the movements of your hands combined with your eyes that spill your mind, I keep finding different meanings for all that's worth. Your vision.