"Não era meu..."

Era Maio. 1990. Eu usava uma saia rodada, azul, rendada, pelos joelhos. Acompanhava com a minha carteira favorita tira-colo castanha, de cabedal e os meus óculos rectangulares de armação castanha. Tinha o cabelo preto, pelo queixo, meio despenteado. Aliás, tudo em mim era assim, quase do avesso. Até o meu sorriso, meio escondido, por trás daquele batom vermelho que eu usava todos os santos dias.
Desloquei-me até o 1º de Maio para comprar o meu "chai latte" habitual. O meu organismo já estava viciado e além do mais, as minhas manhãs eram quase livres pois trabalhava por conta própria.
E foi naquele dia que te encontrei. Usavas um relógio de bolso em tom dourado, suspensórios e uma calça creme. Estavas sentando num lugar onde era possível observar o alvoroço da manhã daquela cidade ocupada. Tinhas um ar misterioso e charmoso.
Sentei-me longe de ti mas de maneira que pudéssemos trocar olhares entre o meu latte e o teu croissant.
No dia seguinte, encontrei-te no mesmo sítio, a comer o mesmo croissant e com aquele mesmo olhar que quase devorou-me. Eu também ali estava e olhava para ti. Não sorria.
E assim a semana correu, resumida em olhares virginianos, doses de café e mistérios cancerianos, até que a nossa refeição passou de pequeno para almoço. Eu não sabia nada de ti e tu também não te importavas em descobrir quem eu era. Melhor assim. Éramos dois indivíduos no meio daquela metrópole, numa geração que possivelmente não nos pertencia. Olhávamos a volta e não nos reconhecíamos. E eu pensei que fosse a única. E só por aquilo, naquele mesmo instante, nada mais importava. Apenas a música que ele cantava, com o ritmo do violão que eu tocava, que só nós os dois ouvíamos. Meio cliché mas tudo aquilo passou da mesa para a cama.

Eu usava uma lingerie azul, meias de vidro até a coxa com detalhes rendados e os pequenos suspensórios que ficavam pela cintura. Encostados na porta de madeira da sua casa, beijámo-nos. Foi um beijo intenso, longo. Senti a sua língua a chegar no meu interior. Senti aquele beijo a despir-me. Mas ainda tinha em mim a saia rodada e a blusa branca a combinar com os sapatos. Faltavam os óculos, que no êxtase daquele beijo sem medidas, foram parar no outro canto da sala. Marcas do meu batom vermelho espalhados naquela epiderme castanha escura. Senti a sua mão no meu pescoço, apenas para começar a viagem pelo meu corpo. Passou pelas costas, pelos meus seios para avisar, e enquanto isso ele passava a sua boca pelos meus lábios, pela minha face e pela nuca com um respirar tentador. "Ahhh... esse homem..."- Pensei eu. E antes mesmo de suspirar por aquele passar de mãos pelo meu corpo, senti os seus dedos na minha vagina. Ainda com a cueca, ele passava os dedos nela e beijava-me agarrando-me no pescoço. Eu gemia no ouvido dele enquanto tentava segurá-lo. Entre as minhas pernas senti-o teso também. Agarrei o pénis dele e ficamos naquele baloiçar de excitação por uns minutos. Éramos banhados por pequenos fios de luz que atravessavam pela janela e espionados por um pequeno espelho que ele tinha na sala. Desabotoou a minha blusa e deixei cair a minha saia naquele piso de madeira. Fiz questão de tirar a calça dele enquanto ele tirava a camisa. Queria chupá-lo até esvaziar dele o último grito de excitação. Baixei-me pronta para pô-lo na minha boca, quando de repente ele agarra-me pela cintura, caminha até ao sofá e põe-me por cima dele. Mesmo antes de eu perceber o que se estava a passar senti a sua língua quente a tocar no meu clitóris. E assim ele chupava. Sentia-me confrontada por sentimentos. Comecei a chupar a cabeça, depois todo ele até chegar as bolas que chupei cada uma, devagar. Passava os meus lábios e a minha língua enquanto sentia a sua língua a viajar pela minha vagina. Eu fazia um movimento de vai e vem com o meu corpo e ao mesmo tempo gemia. Aquele movimento estava cada vez mais rápido e a maneira como eu chupava e o masturbava também acompanhavam. Estava quase para ter um orgasmo só com aquela língua. O meu corpo tremia. Sentia a minha alma a sair e a entrar no meu corpo vezes sem conta. Eu viajava naquele clima de excitação que nos encontrávamos. Virei-me e sentei-me por cima dele, e passava a minha vagina molhada pelo seu pénis enquanto o beijava no peito. De repente ouvi as primeiras palavras, com uma voz de excitação...
Eu ia e vinha, ia e vinha... Até que decidi metê-lo bem devagar, até entrar todo. Ele pegava nos meus seios e apalpava-os enquanto juntos viajávamos naquela atmosfera ludibriante. Eu senti o seu membro quente bem dentro de mim. Eu acompanhava-o naquele movimento e gemia. Gemia muito. Era uma excitação fora do normal. Era uma paixão intensa que queimava dentro de mim. Era como se eu quisesse correr mas ao mesmo tempo ficar imersa naquele homem que me penetrava. E o sabor do proibido era do melhor que sentíamos. A maneira como ele pegava o meu rabo e ao mesmo tempo chamava-me de p***, arrepiava-me até as espinhas. Era um frio na barriga que subia até a cabeça, voltava e fazia o meu corpo tremer todo.

Eram 15:28, e eu estava a ter o melhor sexo da minha vida...

Além de toda a sensualidade em que ele me cobriu, ele era um homem inteligente. Passamos aquela tarde toda estendidos no sofá, eu por cima dele, nus, a conversar. Banhada naquela voz madura e inocente, eu descobri nele, o homem da minha vida. Eu era casada e queria aquele homem para mim. Mas a mulher da vida dele era outra. Eu simplesmente não servia. E assim, voltei para casa, para os braços do meu marido, de coração despedaçado. Não queria mais saber do mundo. Será cliché dizer que nada mais fez sentido? Que se lixe. Quando se sofre por amor nada é cliché. Eu perdi. Só me restava observar o mundo da minha janela e chorar. E se me perguntassem, eu diria que aquelas lágrimas eram resultado das minhas hormonas saltitantes. Vou pôr o meu rádio a tocar e pensar naquele homem que quando me abraçou, o seu corpo disse: não te vou aband  o       n              a                    r...

Comentários

  1. Considerei este texto profundo mas, paradoxalmente , ao mesmo tempo denotei uma leveza no transmitir das emoções eróticas, reflectindo o mistério do envolvimento apaixonado. Achei que a linguagem utilizada é forte, não chegando a ser grosseira e/ou agressiva. Provavelmente incompreensível e confusa para a maioria das pessoas, pois geralmente as pessoas confundem pornografia com erotismo.

    ResponderEliminar
  2. Vale dizer : que com este texto, apercebi-me, com nostalgia que te tornas-te uma mulher! Já não és menina, já não és adolescente... Cresceste...: és uma mulher! O tempo passou ou melhor , voou....quase se esvaziou entre as nossas vivências.

    ResponderEliminar
  3. "Queria chupá-lo até esvaziar dele o último grito de excitação."
    Ai ua kwatela! Hoje as farmácias farão kumbu com venda de lubrificantes. Simplesmente stunning, superb, marvellous!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares