Cobiça das Três e Meia


-"Shiuu... não digas nada" 
 
Despertei com aquelas palavras a sobrevoar o meu quarto de paredes azuis e tecto alto. Não conseguia acreditar no que estava a ver. Por alguns segundos duvidei daquela sombra de grande porte, que se espalhava naquele mosaico beige e que silenciosamente espreitava-me.
Antes de me deitar, tinha deixado as persianas abertas. Gostava de sentir o vento fresco a assobiar no meu corpo ao mesmo tempo que o calor cobria-me com o seu manto. A lua, naquele dia, não me observava. Talvez tinha se cansado de mim, pois sempre que ali repousava, acontecia uma espécie de ritual de quimeras, 'sem eiras nem beiras'. No entanto, era presenteada com o cantar dos grilos e o instrumental viajante das ondas nervosas do mar de Sangano. 
Naquela noite, decidi vestir a minha camisa de noite branca, de seda, meio transparente. Quando finalmente reconheci o corpo que se apoiava na porta do meu quarto, nada fiz senão tapar-me com o lençol castanho que viajava pela cama. Não murmurei uma palavra sequer, apenas observei-o a aproximar-se até mim. A sua negritude, aos poucos, foi iluminando aquele lugar, que até então, tinha perdido a visão de tão escuro que estava. Apesar do silêncio que ambos decidimos adoptar, sabíamos porque razão ele ali se encontrava. Com os seus dois botões de chocolate, banhados por baunilha em forma de olhos rasgados, ele, durante o dia, consumia a minha silhueta, que serviu de inspiração à Leba. Por vezes, quando sozinhos na cozinha, não hesitava por um passar de mãos pelas minhas nádegas, só para me fazer lembrar o quão excitado o deixava. Confesso que também provocava. À hora do jantar, fazia questão de me sentar perto dele. Quando me sentasse de frente, levava o meu pé até o meio das suas pernas e com ele, pressionava-o delicadamente até sentir o volume do seu pénis a querer desabotoar as suas calças. Se ficássemos um ao lado do outro, abria o zíper e metia a minha mão quente por dentro das suas 'boxers', e sem receio, o masturbava. Por vezes, sentia também os seus dedos compridos entre as minhas pernas. A adrenalina que se entornava no ilícito tornava tudo aquilo mais excitante. Da mesa saíamos húmidos. Eu por fora, ele por dentro. 
Raramente conversávamos. Aliás, eu praticamente ficava sem palavras ao lado daquele homem. A nossa comunicação era maioritariamente marcada por sorrisos marotos e olhares maliciosos. Desejava-o. Anelava-o. Cobiçava-o. De todas as maneiras possíveis e menos possíveis. Pois, naquela hora, três e meia da manhã, decidi eliminar qualquer impossibilidade e afastar de mim aquele lençol castanho que me cobria e sem receio revelar o castanho que naturalmente me cobria. Ele continuava de pé. Assim, sentei-me na berma da cama e aos sussurros, pedi que chegasse mais perto de mim. Abri o zíper daquela calça que tão bem conhecia e observei aquele homem a manifestar-se sem tabus. Olhei bem para os seus olhos enquanto o tinha nas mãos. A sua virilidade estava ali descartada e denunciada. Sem pudor nem pavor. Senti a sua mão direita a segurar o meu pescoço e a incliná-lo para frente. Devorei aquele homem até o último pedaço que o restava. Ele gemia e contorcia-se. Levei-o à loucura e o trouxe de volta vezes sem conta. Fiz daquele pénis a minha entrada. Chupei, lambi, fi-lo chegar até o fundo da minha boca e com os meus lábios fiz movimentos circulares de uma ponta a outra. Ao mesmo tempo que o chupava, passeava os meus dedos pelas suas pernas e entre elas. Pegava em cada testículo e levava a língua até eles para os saborear. Sentia-o a oscilar por dentro e por fora. Sentia o seu corpo a tremer. Sentia-o a pegar cada vez mais forte o meu pescoço e o meu cabelo frisado aos caracóis. Sentia-o a procurar pelos meus seios duros, tesos. Senti a sua mão a viajar pelo meu corpo, dedo a dedo, até ele descobrir que, completamente molhada, a minha vagina exibia-se sem traços de roupa interior. E quando os seus dedos ali pousaram, chupei-o mais forte. Por poucos segundos um pequeno sentimento de culpa quis aterrar perto, mas logo a seguir decidi dar toda de mim à ele. Olhei para os seus olhos e mordi o meu lábio inferior com um leve sorriso. 
Levei-o até a cómoda do quarto e virei-me de costas. Apertei o meu corpo contra o seu para que pudesse sentir o seu pénis bem no meio das minhas nádegas. Comecei a movimentar o meu quadril e a pressioná-lo contra o seu, enquanto, atrás de mim, a sua mão direita procurava pelo meu clitóris molhado. Os seus lábios finos tocavam a superfície do meu pescoço beijando-o, enquanto a sua mão esquerda apertava o meu rabo. A sua respiração ofegante arrepiava-me. Atingia o clímax quando levemente mordia a minha orelha e sussurrava. A embriaguez da lascívia que se fazia sentir naquele lugar já não me permitia perceber o que ele dizia, excepto quando, levantando o tom de voz, disse: - 'Quero o teu cú!' Respondi-o com o meu corpo, inclinando-me ainda mais para ele. Com uma posição meio oblíqua, apoiei o meu tronco na cómoda de madeira. A minha vagina palpitava. Convulsionava-me de tanta excitação. Sentia-me apoderada por aquele indivíduo. As nossas peles descamavam-se enquanto roçavam uma na outra. Com as mãos na minha cintura e dentro de mim, criamos um mundo só nosso, onde, coadunados, mergulhados num prazer irreconhecível, ele penetrava-me com o seu pénis latejante. Eu gritava de prazer, ele amava e remava. Devagar, rápido, muito rápido e depois de uma pausa, devagar novamente. Com os pés no chão, eu subia àquelas paredes azuis e explodia. Os restos do meu corpo caíam nos seus braços, e assim, agarrava-me mais forte e contra ele apertava-me. Os seus gemidos roucos de excitação misturavam-se com a melodia que chegava até nós. Tão perto um do outro e dentro um no outro nos perdemos. Numa velocidade inconstante, num vai e vem imensurável, num amor pretendido e adquirido, num desejo insaciável, entreguei-me e em mim ele depositou-se. 

Na manhã seguinte, com rastros de libidinagem invisíveis, desci as escadas de robe e encontrei as três meninas em 'sorrisos' na cozinha. Curiosa, perguntei o que se passava:
-"A Célia descobriu um anel de noivado embrulhado na mala do João."
Por um segundo olhei para elas. Abracei a Célia e desejei-lhe muitas felicidades. Dei-lhe o meu melhor sorriso. Disse-lhe que o João era um bom homem e que a(s) vai fazer feliz(es). Às duas, as três e meia.




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