Conto: A melodia dos teus passos - Parte 2

Quando dei conta de mim, era tarde demais. Passaste a fazer parte do meu mundo em tão pouco tempo que nem eu mesma me apercebi quando bateste a porta do meu ser. Se é que bateste.
A verdade é que entraste sem a minha permissão e, sem a tua, deixei-te entrar. E parados, perguntamo-nos simultaneamente: Porquê?
Tinha receio que te fosses embora, talvez pela minha tenra idade ou pelo desaparecimento fugaz do interesse. E uma parte de mim queria que te fosses bem longe, que te esquecesses do meu nome e de quem eu era, mas felizmente essa parte não foi ouvida. Era óbvio e tu sabias. E provocavas.
Provocavas com o teu olhar incessante, mesmo de longe, eu sentia através dos muros virtuais que nos separavam que tu me observavas. Cada passo, cada olhar, cada sorriso e cada palavra. E a maneira como isso acontecia e as frases que minuciosamente escolhias para me enviar simplesmente captaram o meu ser.
Perguntei-me novamente, quem eras tu? 
Chegaste assim, de repente e nada fizeste além de seres tu mesmo. Não foi a tua figura alta e elegante que chamou por mim. Não!
Um dia pediste-me para imaginar se eu encontrasse alguém que até então era apenas fruto da minha imaginação, e eu, para mim mesma, disse baixinho: Eu já encontrei. Mas não te disse.
Diz-me que melodia é essa que ecoa do teu ser e toca em mim, como brisa leve, tal como a voz da Gadú em meus ouvidos?
Falas de encanto e magia. E eu questiono. E tu dizes que és amante da vida. 
Amante da vida, do momento, do agora... Soas-me perigoso, inatingível. Mas ao mesmo tempo transmites uma segurança inigualável que faz a minha alma querer ficar. Porque a nossa história é carregada de idênticos detalhes, coincidências invisíveis e escondidas mas que vêm a tona nos momentos menos esperados, pouco óbvios. Porque insistes em chamar-me de "Meu bem"? Como sabes que toda a vez que essas palavras se entornam pela superfície da minha tela, uma parte de mim transborda com elas? Daí, viro uma mulher muda, atônita, a procura das palavras certas.
O "Meu bem" é meu... Meu bem querer, meu encanto... 
E mesmo antes de me perguntar novamente quem tu eras, pegaste em mim, com uma força e delicadeza tão real que contigo fui. Deitei-me de costas para ti e aos poucos senti que levemente beijavas a minha nuca e passavas as mãos sobre o meu corpo. E aos poucos fui me virando. Queria olhar para ti, ver os teus olhos enquanto tocavas em mim. E há medida que isso foi acontecendo, fui me entregando. Ao som de Bluejazz, fizemos amor. Deitei-me nas tuas costas, conversamos, falamos de tudo e nada. Fizemos amor mais uma vez. Comemos, vimos filme, conversamos e voltamos a fazer amor. E mais e mais... 

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