Conto: A melodia dos teus passos - Part 1


Admiro olhares. Acredito que eles transmitem algo mais do que querem e almejam. E nessa transmissão sou capaz de captar sempre um desejo, uma vontade, uma dúvida, um talvez... E foi assim naquela noite de céu limpo.
Apesar de pouco importar, era uma noite de lua cheia, coincidentemente tal como todas as outras histórias que envolvem um romance. Mas esse é um conto diferente. 
A vida se encarrega de cruzar pessoas com laços de amizade, amor, seja por um dia apenas com um simples sorriso e olhar trocados, seja por uma vida carregada de folhas de papel escritas e albúns de fotografia preenchidos... 
Aos poucos dei por ti. Naquela noite de verão, inesperadamente, olhei, só por olhar mesmo, e tímido, meio que despercebido entre o "vai e vem" da multidão que nos rodeava, tu olhaste para mim também. Não senti nada além de uma singela curiosidade. Quem eras tu? Superficialmente eu reconhecia, mas o teu porte e a maneira como de quando em vez as nossas almas se reencontravam naquele alvoroço, fez-me querer saber mais.
Tocou uma música bonita, daquelas que obrigam o corpo a dançar e, no meu canto, esperei que viesses pedir-me para te acompanhar naquela melodia, mas não o fizeste. Talvez seja coisa da minha cabeça, pensei eu. E assim terminou a noite. Carreguei em mim uma ansiedade que aos poucos desvaneceu até aquele dia 13. 
Percebi que voltaste a olhar para mim mas, ao mesmo tempo, sentia que me ignoravas. Como se quisesses e não quisesses olhar ao mesmo tempo. Era estranho. E assim continuavas a não pedir-me para dançar... E eu queria chegar mais perto, saber quem tu eras e, o mais importante, saber quem eu era perto de ti. A aproximação de duas pessoas muito diz sobre elas e eu já não aguentava aquele jogo do "olha e não olha" que tu decidiste começar. E quando me dei conta, destruí uma barreira da minha tímida personalidade e do meu acanhado jeito de ser e chamei-te para comigo partilhares aquela pista de dança. Já não me lembro que música tocaram ao certo, mas sei que havia uma, cuja letra era mais ou menos sobre o homem não querer perder a sua amada. 
Foram 4 músicas seguidas... Com os corpos transpirados agarraste bem firme a minha mão. Com a magia da química imposta sem mandato nem vergonha, deixei-me levar pelos teus passos. De olhos fechados, com o meu rosto encostado no teu peito, viajei num mar de sentimentos. De repente, com o olhar aberto, assustei-me: 
Mas quem és tu, que os meus olhos fazes fechar, e o meu estar viajar? 
Tentei negar essa curiosidade mas não conseguia. Era tarde demais.

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