A viagem.
Entre a multidão que me rodeava, o barulho da estrada e o pousar das aves, senti a minha mente parar por segundos. Como se ela quisesse dizer: Espera!
E inquieta eu parei. Olhei a minha volta e o sentimento de que já não pertencia ali tornou-se cada vez mais notável. Com as pernas bambas, pousei o saco que carregava nas minhas mãos cheias de calos. Foram muitos anos de trabalho. De mim, só restava a alma. Sentia o meu corpo a despedaçar-se aos poucos, cada pedaço de pele a derreter em fracção de segundos, os pêlos a alcançarem o pavimento cinzento da minha residência, o meu cabelo outrora negro como os olhos de minha mãe, aos poucos se tornavam grisalhos. As minhas lágrimas, que nos meus tempos de mocidade consolaram muitas das dores que me derrubaram, hoje, rolavam secas na minha face, sem vida e mais frias que o gelo.
Eu tremia. Queria o meu brilho de volta. Os assobios da esquina da rua 11, que faziam as minhas curvas balançar em maior ritmo, foram substituídos por olhares de desdém...
Ninguém mais me reconhecia. Ninguém sabia o meu nome. E o pior, eu também não. Insegurança passou a ser o meu sobrenome. Que tipo de mulher me tornei? Sempre fui tão certa daquilo que era? Naquele tempo, outra figura de mim ocupava os meus sonhos enquanto acordada: bem sucedida, capaz, forte...
Olhei para o calendário de folhas rasgadas e vi: 2014. Como podia ser? Já se tinham passado mais de 20 anos...
De repente, uma voz do meio da multidão, grita bem alto: Mentira! E senti o eco nos meus ouvidos durante 30 (longos) segundos.
Era mentira, ilusão...
Tinha apenas 20 anos e não era o meu corpo que estava cansado. Era a minha alma. Não sabia o que fazer daquela juventude. Os dias passavam e eu limitava-me a agir como a multidão que me rodeava. Não tinha noção do que era "direcção" porque simplesmente seguia... Seguia o barulho da estrada e o pousar das aves. Não sabia quem eu era. E não. Não julguem que é apenas uma crise de identidade. É muito mais do que isso... é o reflexo da doença que tem atingido a nossa geração. A nossa juventude.
Não existem sintomas. Apenas consequências. E eu... sou um exemplo vivo dela.
Nada fiz, nada tenho, nada sou. Eu, Clarice? Nada sei!
E inquieta eu parei. Olhei a minha volta e o sentimento de que já não pertencia ali tornou-se cada vez mais notável. Com as pernas bambas, pousei o saco que carregava nas minhas mãos cheias de calos. Foram muitos anos de trabalho. De mim, só restava a alma. Sentia o meu corpo a despedaçar-se aos poucos, cada pedaço de pele a derreter em fracção de segundos, os pêlos a alcançarem o pavimento cinzento da minha residência, o meu cabelo outrora negro como os olhos de minha mãe, aos poucos se tornavam grisalhos. As minhas lágrimas, que nos meus tempos de mocidade consolaram muitas das dores que me derrubaram, hoje, rolavam secas na minha face, sem vida e mais frias que o gelo.
Eu tremia. Queria o meu brilho de volta. Os assobios da esquina da rua 11, que faziam as minhas curvas balançar em maior ritmo, foram substituídos por olhares de desdém...
Ninguém mais me reconhecia. Ninguém sabia o meu nome. E o pior, eu também não. Insegurança passou a ser o meu sobrenome. Que tipo de mulher me tornei? Sempre fui tão certa daquilo que era? Naquele tempo, outra figura de mim ocupava os meus sonhos enquanto acordada: bem sucedida, capaz, forte...
Olhei para o calendário de folhas rasgadas e vi: 2014. Como podia ser? Já se tinham passado mais de 20 anos...
De repente, uma voz do meio da multidão, grita bem alto: Mentira! E senti o eco nos meus ouvidos durante 30 (longos) segundos.
Era mentira, ilusão...
Tinha apenas 20 anos e não era o meu corpo que estava cansado. Era a minha alma. Não sabia o que fazer daquela juventude. Os dias passavam e eu limitava-me a agir como a multidão que me rodeava. Não tinha noção do que era "direcção" porque simplesmente seguia... Seguia o barulho da estrada e o pousar das aves. Não sabia quem eu era. E não. Não julguem que é apenas uma crise de identidade. É muito mais do que isso... é o reflexo da doença que tem atingido a nossa geração. A nossa juventude.
Não existem sintomas. Apenas consequências. E eu... sou um exemplo vivo dela.
Nada fiz, nada tenho, nada sou. Eu, Clarice? Nada sei!
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