A vida como ela é...

 Nos dias em que não escrevo sou praticamente um nada. Sinto o corpo doer e uma nuvem formar-se ao pé de mim, pronta a acompanhar-me pelo resto das horas. Tenho sentido cada vez mais esta necessidade de me expor ao meu caderno de capa de couro, tão bonito e tão cuidado, tão leal aos meus segredos e às minhas divagações perdidas.
Preciso escrever porque vivo mergulhada em nostalgia. A minha vida é toda ela alimentada por uma saudade que nunca sei explicar e que desconfio já não sentir: Estou sempre em movimento e em despedidas. Estou sempre a embalar coisas e a tentar encontrar alento nos pequenos bibelots que me vão acompanhando, também eles sempre muito fiéis. Os bibelots, os livros, a minha chávena de chá, o meu vaso de orquídea, a minha máquina de escrever, o quadro da Andressa, o meu terço de crochet... Já as pessoas que me vão acompanhando são sempre as mesmas e mais ou menos umas. Algumas, apenas carrego-as na mente porque já não as posso falar nem tocar. Porque a vida não deixou, porque a vida teve de acontecer ou deixar de acontecer. Outras carrego-as no olhar e no coração. E serão elas as pessoas de sempre. Todas estas saudades que se vão entranhando aos bocadinhos carrego como uma bagagem que não gosto de abrir mas gosto de cuidar. Que nos dias mais apertados posso sempre tocá-las e respirar fundo porque ainda lá estão.

Sinto saudades todos os dias, mas hoje senti ainda mais. 

"E se não for pedir demais, peço por sinais. Resta uma só palavra. Peço por sinais, resta uma só palavra."

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