Sem motivo aparente

Há poucas certezas que carrego comigo mas uma delas é que o barulho da música é sem dúvida, uma eternidade neste mundo.  A música acompanha-nos e testemunha todas as curvas que a nossa vida exagera. 

As poucas vezes que consigo respirar e verdadeiramente parar dentro desta casa que me acolhe, apercebo-me de como os barulhos apoderaram-se dos seus cantos pouco óbvios e às vezes até tristonhos. 

Quando preciso lembrar a minha avó para entardecer o meu esquecimento, são sempre os sons das suas palavras e dos seus passos que me desafiam a tarefa. Foi com fado cantado secretamente ao ouvido que me apaixonei perdidamente pelo homem que é hoje o pai das minhas filhas. É a música que me leva sempre para casa, em Luanda... 

Nestes dias difíceis tem sido a música a ajudar-me a olhar o passar das horas com a leveza que se lhes obriga. Ao lado da música, bem ao lado, está um batom vermelho que recentemente descobri e experimentei. Foi terapêutico e de certo modo, transformador.

Por isso, em tom de celebração, venho aqui anotar a primeira vez que usei um batom verdadeiramente vermelho e saí a rua. A máscara também lá estava e confesso que a coloquei com alguma melancolia. Ironia das ironias é que chovia que se fartava e assim que cheguei a casa o batom desapareceu aos pingos  [mas isto é conversa para outro dia].

Contudo, o que realmente importa hoje e em todos estes dias é o que vai por dentro. A maneira como cuidamos de nós, do nosso corpo e da nossa alma. A maneira como cuidamos dos nossos, perto ou longe, dos que nos falam e dos que não se apercebem da nossa existência diária ou de (quase) toda uma vida. 


Toda esta ladainha para vos dizer, aos poucos [ou inexistentes] que ainda cá estão, que estarei por cá mais vezes. Sem motivo aparente... 






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